sexta-feira, 18 de junho de 2010

Lamento afogado no arco-íris.

Mãe. Sem você não sei quem sou. Quero você. Sinto sua falta. Não tem graça mais, nada. Tudo agora é grosso, empapado, insosso. Minha vida empapada. Toda aventura empapada. Branca, sem sal, sem prazer. Ossos, o mundo virou ossos assim como você está agora. Todos que morrem conosco…Preciso tanto conversar contigo. Preciso tanto que não tenha sofrido. E a flauta, o violino, o violão? Ninguém toca mais. Minha casa, eu não tenho mais, vocês, eu não tenho mais. Tudo é tão pesado. O coração faz tanta força para bater. A gente não pode se olhar mais. Lembro de nós, por que estamos separadas? Está errado. Já faz muito tempo. A pressão foi abaixando…eu não sabia que ia embora; eu não sei, mas eu não sabia! Achava que nunca iria me deixar. Eu era com você. Sinto saudades minhas. Às vezes acordo e vejo que não tenho respirado, e é quando você interrompe minha apnéia e me leva para aquele hospital. Eu fui até ali – que dias absurdos! Mas você ainda estava viva portanto todo sentido estava preservado. E agora? Que vida é essa que continua para além do quarto 25? A papa. O corpo papa, massa pelejável, burra, usável. Engordarei e começarei a enrolar as palavras ao falar; estarei apática, dopada… – A massa. É duro fingir a humanidade e disfarçar a papa. Sua inteireza em meu pensamento me faz respirar como se a cabeça encontrasse o ar fora d`água, e aí eu apareço por dentro da massa branca; a realidade cai como uma martelada quebrando da pele para fora e o mundo se emudece, eu não posso ouvir mais os sorrisos, os projetos, as conquistas. O mundo dá um retorno em seu eixo e me vejo entre fantasmas do futuro, somente minha holografia chegou aqui – e eles falam com ela! – o presente acontece do quarto 25 para trás. É lá que estou; lá era onde eu existia, por aqui há a massa, o bolo falante, o arrastável. Que tédio repulsivo e contagioso eu posso espalhar!
As bolhas estão crescendo, o corpo fermenta…A morte continua de todas as formas com energia, com alegria.