terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Em Silêncio

Se há algo ainda que posso fazer é ser patética.

Chorar não nos livra da implacável esperança.
Eis a tragédia.

Se há algo ainda que posso ser,
Patética - infeliz e poeticamente humana.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Apatia

Até da tristeza já me cansei.
Sofrer não tem mais sentido,
Tampouco a felicidade ocupa.
Respiro:
O diafragma expande, entra o ar
O diafragma contrai, sai o ar.

Sentir pouco,
Calos.
Ah, se Guimarães Rosa estivesse vivo!
Talvez o sertão ainda existisse,
A vida, a paixão, o encanto.

Nem o riso irônico...
Já me cansei.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mãe

Ela era tímida. Seu primeiro nome, Luzia; em pagamento a uma graça alcançada: sua saúde. – Não mais que por 60 anos. Seu apelido, Nicinha, ou Ni, como seu filho a chamava.
Tinha um violão, visitava seu primeiro professor de música todo ano no aniversário, levava presente.
Ensinou-me a cantar. As primeiras músicas de meu repertório foram Negro Gato e O Calhambeque. Depois diversificamos. Eu cresci e cantávamos bossa, boleros, marchinhas, sambas, caymmis, miltons, caetanos…
Tocava o violão, eu cantava.
Jogava peteca comigo no quintal. Dançava comigo na sala, me assistia a dançar.
Bolos. Ensinou-me o preparo de bolos, vários tipos. O pão-de-ló era eu quem começava depois de bater claras até que ficassem duras. Depois do açúcar ela é quem continuava pois em seguida viria o leite quente e o fermento – etapas que exigiam mais preparo.
Massa derramada sobre a forma e o pote vinha para minhas mãos para eu me deliciar com a sobra da mistura.
Conversávamos horas a fio sobre tudo, e qualquer coisa. – Ela sabe de todos os meus amigos. Nunca houve segredos.

Caminhar, caminhar, caminhar
Na beira do rio.
Dormia com ela tocando violão,
Acordava ouvindo Chopin ou Alaíde Costa, ou Bach…muitos
Bolos.
O violino no final da tarde. O cachorro sempre a seus pés, a proteger-lhe, a saborear-lhe a companhia.
Caminhar, caminhar, caminhar
Sempre na beira do rio, ou riachinhos.

Bolinhos de chuva quando havia chuva, recheados
Com banana ou goiabada?
Banana.
Para o seu irmão, goiabada.
Que sobremesa você quer que eu faça?

Seu cheiro, o melhor do mundo.
Seu sorriso, o que eu mais amava.
Sua pele,
meu contato, nosso tempo.
Suas prendas: costura, música, canto, comida, tapeçaria, cortes de cabelo, pintura de unhas,
A casa,
O piano que ela gostaria de ter na sala,
Amor, amor, amor, só amor sempre
Por todos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sente falta de calor, de silêncio, outras mãos nos cabelos, coração,...
Minha pele está se tornando fina,
meus ossos estreitos,
o músculo vem à língua, desliza,
arrebenta na boca do estomâgo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quando crescer...

Somos o que aprendemos a ler,
a sentir e a entender.

Queremos o que soubemos,
sentamos onde nascemos,

Vislumbramos o reaver das cinzas,
ajuntar os pedaços.

Fazemos o mundo a nossa imagem e semelhança, mas o mundo tem muitos
e paisagens, securas e fontes...
Não escolhemos onde.

Somos os desejos de ontem e de hoje,
os esquecidos, os persistidos,
realizados ou ressentidos.
As coragens e as covardias.

E a vida
repetida em prismas
Tem sempre um limite de faces
apoiadas sobre o rasgo da infância.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por que não falar do sol? - A Divina Comédia

Desde aquele dia na pequena igreja do bairro quando aquele cachaceiro de braços finos e duros a ergueu tomando-lhe de súbito as axilas e rindo que ela soube: jamais teria sucesso na vida. E assim foi, a menina cresceu, esqueceu-se daquele episódio mas nenhuma sorte daquelas graúdas, que mudam a direção da sua vida para melhor, que lhe colocam em um novo mundo colorido e agradável tinha lhe acontecido. Ela sabia que esse tipo de sorte não era com ela, só as triviais: ganhar um convite para o cinema, uma bolsa na promoção do supermercado, aquele táxi que passou na hora certa quando estava atrasada, conseguir encontrar um banheiro a tempo quando não podia mais segurar; e também aquelas sortes estáticas que muitos chamam de anjo da guarda e impedem que coisas más ou trágicas lhe aconteçam, como quebrar um membro, sofrer acidentes, violências, abandonos; mas a grande sorte, a sena, o príncipe encantado, o olho de um caçador de talentos, jamais; não era para ela.
O destino nos é revelado nos detalhes, a menina sabia disso. Não queria pensar porque o tema parecia pouco consistente e ela era do tipo que acreditava no poder intrínseco do indivíduo, na força da própria opinião. Apesar de fugir dos livros de auto-ajuda, não tinha dúvidas de que o destino era uma estrada construída pela confiança, suor e o talho preciso de um caráter virtuoso. Tristes ilusões americanas que nunca encontravam espelho em sua realidade, ao contrário, era sempre o bêbado, o canastrão, o sátiro, que estavam por perto para zombar de suas convicções. Aquele riso sem contexto e eufórico que celebrou a menina no espaço santo era só o que o mundo lhe reservara. Salvo algumas penas, pois afinal o gato gosta de brincar muito com o rato antes de liquidá-lo, o destino da menina era o desejo empobrecido de homens carentes e frágeis. Ela tinha medo – ela sempre teve medo – porque não queria lutar, não veio para isso, mas a vida a impelia. Lutar para sofrer menos e não para ser feliz.
Um dia a menina viu Deus, Ele lhe pediu paciência e compaixão; ela pediu descanso; Ele não respondeu. Ela aceitou, mas não sem fazer aquela cara de resignação de quem quer deixar claro que não está feliz. Respirou e continuou. Não entendia porque Deus não sentia culpa pela sua infelicidade, e de outros, afinal ela sabia que não era a única a ter sido batizada por Suas mãos irônicas.
A bronquite na infância não fora por acaso, a pneumonia, precisava ter os pulmões fortalecidos pois iria suspirar muito. Os desejos lhe exauriam, qualquer hora ela sairia atirando, fazendo justiça – paciência demais desgasta. Ele a perdoaria: entende o que são urticárias, entende o cansaço, a escassez de saliva.
Hoje tenta fazer como Ele: ri, ignora, diverte-se sozinha, ama quando vê criança e lamenta.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu: mulher, carente, desterrada.

Vou dizer a ele que estou doente, que deixei a lógica e o discernimento de lado e agora estou na cama esperando a sopa. Mas sei que ninguém virá com o prato de jantar. - Eu e Nijinski escrevemos muito sobre nossos estômagos.
Não me importa o sentido das coisas, este artigo é na desordem do meu pensamento sem juíz, é quando toco meus sonhos sem precisar adormecer.
Direi que não quero mais sexo casual, quero romance. Cansei da pobreza de nossa relação. Quero vida, intensidade, motivação. Quem é que tem motivação hoje em dia? Acho que existem obsessões mais do que motivos.
Vou embora. Mais uma cidade arruinada, esgotada. Hora de esgotar outra. Canso-me dos lugares quando ali não encontro mais nada que aqueça meu corpo, que me dê energia. As árvores estão velhas, o mar, coisa dos burgueses e o resto é precariedade. Não gosto de inventar objetivos, pois acho que os objetivos são necessidades que nascem por si mesmas; se não nascem há algo errado. - Pelo menos quando mudo de cidade a necessidade de existir dentro do novo acontece e me estimula à recriação.
Hoje ele não irá me chamar porque sabe que estou menstruada. Ele quer sexo, eu quero romance.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pensamentos e sons noturnos

Sei que um dia vou cometer o suicídio. Sinto minhas vísceras cansadas, velhas; elas me trairão cedo ou tarde, mas não será por vingança, será por tristeza. Minhas vísceras são sem esperança; são fortes e disseram que lutariam até o fim mas estão chorando.
Tenho pena do homem que tosse toda a madrugada, o silêncio e sua tosse são a madrugada. A tosse me desespera, que corpo pode suportar tamanha trepidação por horas? Um dia a casa cai. As convulsões são carrascos que açoitam sem pausa, lançam-lhe por toda a sala. Quantos vulcões ainda explodirão desejando me rasgar, me expulsar de mim, quantos eus me odeiam e querem a independência? Sei que um dia me trairei. Eu não sou um reino em paz. Um dia minha pele se abrirá e meus organismos fugirão para a terra, todos eles – toda vida deseja renascer diferente, toda vida deseja novas alianças, novas… –, e eu ficarei oca, sozinha, perdendo, perdendo, perdendo. – Acho que rirei.
Não terei filhos, não ei de salvar-me em outra união, rirei.
O filho é a fuga, a estratégia de salvaguarda dos tesouros, a tradição. Não fugirei, deixarei que tomem tudo o que desejarem, rirei. Quero rir dos açoites, quero que meu organismo não vença, que perca o sentido. Quero que a guerra seja inútil. Pena de mim? Sim.
Procuro uma maneira de entrar sem ver sangue, não gosto de sangue, ele me desespera. Entrar saltando ou entrar dormindo? Hoje eu acordei, não esperava. Eu sempre me surpreendo com minhas vísceras que ainda funcionam; como conseguem? Mas eu disse: elas me trairão, e irão fazer quando eu não quiser porque querem meu sofrimento.
Por que ela me pedia ajuda? Por que ela perguntava o que estava acontecendo? Ela se desesperara. Sofria, sofria muito; como se se afogasse por dias. Torturaram-na. Nunca vi tanta crueldade, dos homens e dos deuses. A vida é má. E eu só tinha amor.
Um dia sei que vou cometer o suicídio. Não me desesperarei, não perguntarei o que está acontecendo, não pedirei ajuda. Rirei e a guerra será inútil.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Não é coisa de geladeira

- Ahn? Ah, tá, o amor, né?
- Sim.
- Não, eu vou pegar daqui a pouco, mas pode continuar mandando.
(Pausa)
- Estou cansada.
(Pausa)
-Olha, não precisa jogar no meu pé, não! Põe ali no cantinho - Pena que não tem geladeira... - que depois eu pego.
-Eu vou embora.
- Ah, já?! É cedo.
- Estou cansada.
- Ah...então tá bom. Tchau.
- Tchau.
(Ela vai sair)
- Eih, tá tudo bem com você?
- Ahan, tudo bem.
- Não deu muito trabalho colocar lá no canto, né?
- Não.
- Então tá.
- Tá...Tchau.
- Tchau.

Ela vai embora.
Encontra um dia fulano.


- Oi!
- Oi!
- E aí, como você está?
- Bem, na rotina.
- Nossa, eu tive em não sei onde, fiz não sei o quê, ciclano me chamou para isso, para aquilo, ganhei não sei o quê, conheci não sei quem, vou fazer isso, aquilo e mais aquilo outro!!
- Legal! E o amor?
- Ahn? Ah, o amor... Nossa, é verdade, o amor que você me deu, né?...Tá lá em casa...
(Pausa)
- Você quer mais.
- Pô, quero. Se você puder me dar.
- Não sei...
- Ah, eu queria mais, pô! É que aquele lá não deu para aproveitar. Mas você fica à vontade...Eu estou em casa, qualquer coisa...
- Tá bom. Eu vou ver se dar.
- Então, falô!
- Falô...tchau.
- Tchau.

Como uma mãe que continuava a produzir leite mesmo depois do filho ter desmamado, ficava ela a produzir amor por fulano.
No dia em que parou, por cansaço, ele sentiu falta, estava acostumado com o cheiro podre daquele amor desperdiçado a seus pés. De qualquer jeito, aquilo não era tão importante assim, afinal fulano tinha coisas mais urgentes para fazer. Havia pessoas que davam coisas melhores a fulano, coisas que ele apreciava mais, como dinheiro. O amor apodrecido era só um capricho: ele achava gostosinho ela ali em sua casa lançando vida aos pedaços. Gostava do cheiro doce e suave que exalava de seu amor inútil a estragar pelos cantos da casa. Aquele aroma enchia sua vida do insubstituível prazer de matá-la aos poucos por indiferença.


A indiferença:


Pela morte nós perdoamos, não pelo abandono.

Amor arremessado no vazio
Amor
Qual a razão de uma coisa existir sozinha?
Existir para o que não existe, qual a razão?
Fluxo que vai e não volta, por quê?

Um corpo que infla de tristeza por produzir vazios.
Existir para o que não existe,
morte em vida,
viver matado.
Demitida da sociedade aos vinte anos.

Agora faço coisas em vão, nada do que faço me interessa, se aproveita.
Quem ler isto, talvez diga: "Nossa, que coisa clichê! Palavras de uma adolescente frustada - e com frustrações típicas; o pior!"
É verdade, frustrações típicas,...porém tão profundas e verdadeiras.
...

Imagina ele chegando de surpresa. Ela se alegra.
É humilhante amar sozinho.
É aviltante dar, dar, dar, dar,...e ver tudo ficar no chão, aos pés, estragando.
- Simpático da sua parte esse amor todo, obrigado.
- Então pega! Não gosta?
- Ahn?! Ah, gosto sim, é muito bom! Ficarei feliz se puder sempre me dar.
- Sim, farei isso. (Pausa) Mas você não pega!


Acabou.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Lamento afogado no arco-íris.

Mãe. Sem você não sei quem sou. Quero você. Sinto sua falta. Não tem graça mais, nada. Tudo agora é grosso, empapado, insosso. Minha vida empapada. Toda aventura empapada. Branca, sem sal, sem prazer. Ossos, o mundo virou ossos assim como você está agora. Todos que morrem conosco…Preciso tanto conversar contigo. Preciso tanto que não tenha sofrido. E a flauta, o violino, o violão? Ninguém toca mais. Minha casa, eu não tenho mais, vocês, eu não tenho mais. Tudo é tão pesado. O coração faz tanta força para bater. A gente não pode se olhar mais. Lembro de nós, por que estamos separadas? Está errado. Já faz muito tempo. A pressão foi abaixando…eu não sabia que ia embora; eu não sei, mas eu não sabia! Achava que nunca iria me deixar. Eu era com você. Sinto saudades minhas. Às vezes acordo e vejo que não tenho respirado, e é quando você interrompe minha apnéia e me leva para aquele hospital. Eu fui até ali – que dias absurdos! Mas você ainda estava viva portanto todo sentido estava preservado. E agora? Que vida é essa que continua para além do quarto 25? A papa. O corpo papa, massa pelejável, burra, usável. Engordarei e começarei a enrolar as palavras ao falar; estarei apática, dopada… – A massa. É duro fingir a humanidade e disfarçar a papa. Sua inteireza em meu pensamento me faz respirar como se a cabeça encontrasse o ar fora d`água, e aí eu apareço por dentro da massa branca; a realidade cai como uma martelada quebrando da pele para fora e o mundo se emudece, eu não posso ouvir mais os sorrisos, os projetos, as conquistas. O mundo dá um retorno em seu eixo e me vejo entre fantasmas do futuro, somente minha holografia chegou aqui – e eles falam com ela! – o presente acontece do quarto 25 para trás. É lá que estou; lá era onde eu existia, por aqui há a massa, o bolo falante, o arrastável. Que tédio repulsivo e contagioso eu posso espalhar!
As bolhas estão crescendo, o corpo fermenta…A morte continua de todas as formas com energia, com alegria.

domingo, 25 de abril de 2010

Com tédio e um pouco de fúria

Minha vida já foi intensa. Já estive diante dos mistérios dos mundos intocados. Não sei quando ao certo deixei o paraíso e caí aqui.
Eu vivia perto das estrelas, do imenso céu escuro aonde viajava livre. Agora vivo aqui embaixo, sozinha. O mundo é um marasmo só.
Não sei, mas faz tempo que não vejo graça em nada. Tudo tão banal, tão sempre o mesmo; e os dias passando depressa.
O mundo está precisando de um metereoro – dos grandes – ou um extraterrestre.
Não sei o que aconteceu, mas acordei de um sonho de aventuras, e nada aqui tem tantas cores, é tão vibrante como antes.
Vejo o tempo passar depressa e meus colegas repetindo o passado, aquilo que eu via na minha infância: os adultos trabalhando, dirigindo seus automóveis, casando e tendo filhos, indo à praia nas férias, pagando contas. As crianças vão à escola e seus papis em algum barzinho a tomar cerveja com os amigos, que também fazem a mesma coisa, fazem a mesma vida. Não gosto disso, cada vez mais sinto que estou num lugar estranho. Sonhava que quando chegasse a fase adulta poderia transformar o mundo, que apresentaria a criação, a força, a liberdade às pessoas. Não: cheguei sozinha a esta fase da vida, meus colegas estão correndo atrás da construção de seus pequenos mundos domésticos, seus lares – doces lares -, e eu continuei aberta, desgarrada.
É isso: sou uma desgarrada. Não vou ser consumida pelo sistema, mas vou ser esquecida como alguém que nunca foi, nunca houve, nunca nasceu. Talvez alguns poucos se lembrem de mim. E quem serão esses quando lembrarem?
Não gosto de ver o mundo se repetir, parece que a vida não faz sentido se é assim. Eu envelhecendo, todos envelhecendo, mas a vida continua estática. Gente, há que se fazer uma revolução para mudar o tempo!!!
O que há é silêncio. Uma revolução sem som muda alguma coisa? O mundo hoje precisa de gritos, de rodopios, de medo, de crenças, de mistério, mortes gloriosas e salvação.
A vida hoje acontece em potes de maionese, tudo se guarda nos frascos de vidro – e nas telas da tv e dos computadores. Nada transborda, nada infecta, nada invade o espaço.
Algo ou alguém precisa invadir nossa praia.
Vamos morrer tristes assim, vamos morrer insossos. Esgotaremos as fontes de energia e morreremos como sapos em água que se aquece lentamente. Morreremos sem perceber e por isso mesmo sem termos feito nada de belo, nada de mal, nada de bom – nada de vida.
Olho em volta, não compreendo. Onde foram deixados os sonhos, as esperanças, a utopia? Auto-conhecimento, para que? Viajens subjetivas, para que? O que falta é combate, é harmonia. Tristes seres produtores de solilóquios que somos.
Atualmente se fala tanto em relação, comunicação, inter isso, inter aquilo…mas esses tão falados contatos estão ocos, não estão produzindo nada, afetando nada…Não entendo.

Civilização? Isto então que temos em sociedade é o que chamamos civilização? Este controle energético, este fluxo bem ordenado de pontinhos coloridos, todos muito bem limpinhos, modestos, funcionais e bem definidos? Quero barro, lodo, o peso do rústico sobre mim – e quem sabe daí começar alguma coisa mais vigorosa, que invada os ares, que suje a roupa, que estrague as casas, que destrua os carros, que molhe os cabelos, purifique os lábios, imponha o céu e as profundezas do mar.

Literatura Fluida

Nessa vida a gente vai se tornando e deixando de ser também. Não dá para estender o passado se quisermos entrar no futuro. Ficar é uma palavra estranha pois a permanência nunca tem sentido. O devir, contudo, cria lugares, lugares do ser, lugares onde o ser é reconhecido – morrerás sendo, tendo sido.
Espaço... O que fica nunca é o tempo, é o espaço. Que espaço quero construir? Em que espaço quero ser reconhecida? Que espaço quero ser?
Sou um espaço. O espaço está na matéria e não em seu em torno vazio. O tempo é a sua chance.
Não sei falar do som que ouço agora. Ele não é meu, mas está em mim, deu tantas voltas…Vou construindo aos pedaços minha capacidade de dizer. Não acho que tenho nada a dizer, mas sou um ponto de sintetização de espaços.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Dos Atuais Prazeres

• a vida no Rio,
• a falta de horário,
• não precisar tanto dinheiro para diversão,
• dormir no Guga,
• não ter muitas regras,
• andar de bike,
• ir no samba,
• não preconceito,
• convivência com todas as gentes,
• Santa,
• açaí,
• pão com manteiga na casa do Guga,
• banho de mangueira,
• Andrea e sua liberdade;
• gente que não perde tempo com carro,
• mar sem programa,
• cantar,
• tardes de bobeira,
• dançar,
• gente que toca violão,
• preto, branco, mulato, caipira, noderstino, estrangeiro;
• botecos do Rio,
• muçulmanos,
• Gil – e Lula –,
• Vandinha, que em cena é linda, da show!
• Franco, Teresa, povo da Pulsar, que é tudo diferente;
• Ita, que passa em casa para me levar para a praia;
• amigos simples, inteligentes, engraçados, parceiros, talentosos;
• salada de fruta,
• bossa,
• Chacon, que é incrível - uma das pessoas mais interessantes que conheço -;
• Celina, fantástica!
• o novo penteado do João Batista,
• o Pichote, que está com 14 anos e firme;
• pedalar em São João da Boa Vista;
• meus vizinhos de São José;
• as maratonas gastronômicas da família;
• a simplicidade e o despreendimento dos meus dias.


- Chiquilla! Vamos cantar, Chiquilla! Quanto tempo mais...?