segunda-feira, 28 de maio de 2012

O mar encerra a terra.
Cobre-lhe com um beijo eterno
E peixes-versos
Calados em sensação.

O mar é pulso mudo
Ensaio de parto
Respiração de boi
Memórias em natação

Os peixes
Os sonhos que ainda não sonhei
Mistérios em azul unção.

Movimentos subterrâneos
Subcutâneos
De abstrações rarefeitas

Sei que flutuam agora
(no agora de um sempre velho e contínuo)
por baixo de nós.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Queria alguém para onde eu pudesse voltar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Desintegr

Desconfio de que sou um objeto. Achava que era gente: animada.

Será que não passo de um sonho alheio, ou será o outro que é um sonho meu?
É a beira da loucura: a falta de comunicação.
Que virtude tem a virtualidade?
Se é que tem.
Que vantagens tem a realidade?
Se é que existe.
Estou quase virando espelho.
Quase virando imagem.
Virando falha de transmissão
Vir
ando
teclas
soltas
.
.
.
esqueces.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poema esburacado: por insetos e falhas de cálculo

Poesia é pior que borboleta
De tão frágil.

Sua pele é feita de pó de giz
Deixa rastros se tocada
Mas não aceita nada
Que não se cale ao seu voar
Por merecer um só instante
De verdade
E alegria
A borboleta
poesia
Vez em quando vem
como cigarra
Debaixo da terra entocada
fica
Esperando a hora de soar
Quando descobre a realidade
Começa um canto tímido
e
se por acaso tem brisa
Grita mais que pode

Então
não sendo pólen
Vira casca
Deixa sua marca
mas engole sua sina
Que é a de um meio dia
Cair da lira
e virar sonho
Daquele que
por mais que lhe amasse
Em nascimento
Virada a lua
A deixou
Alegando falta de simpatia.
(e certa amnésia afetiva)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sem som

O poema está quebrado
Cacos de vidro pelo chão
Palavras abandonadas.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ser humano cansa.
Sentir enfada
Expressar-se transborda
Inventar esvazia
Amar fica,
E fica, fica, fica...
Que até enjoa.

Mas ainda assim fica, fica, fica...

Desejo um dia
Ser qualquer coisa que não tenha coração:
pedra, fogo, som, poça d’água, nuvem, alicate,...

Coração cansa, enfada, transborda, esvazia
E um dia pára.

Pára porque sabe que tudo que não acaba, acabado está.

Mas e o amar?
Este a gente põe passarinho.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Da capacidade crítica

Não sou uma pessoa crítica, sei bem pouco da qualidade dos materiais. Os outros que encontram os problemas; e eu, por achar que devo demonstrar apuro de percepção, nestas ocasiões vou logo assentindo com a cabeça e acusando de canalhas aqueles pobres defeitos que nunca me fizeram mal algum.
A matemática não mede suas palavras. Sai dizendo, doa a quem doer. Não conhece brisas, nem sabor de pirulito. Ela é direta.
Pergunto-me se já tivera alguma dúvida sobre a morte. Se sofre de medo de falar em público, ou se já recomendaram-lhe psicanálise.
Será que alguma vez caiu do cavalo? E se caiu, torceu o pé? –A matemática não usa sapato.
Não tem digital. Nunca escreveu uma carta de amor...
Tem olhos de boneca.