sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Atração


Gosto de vidros azuis saltando discretamente de florestas noturnas.
Como lago sob a luz da lua.
Gosto de rostos amadeirados,
como que talhados por mãos antigas,
de outras margens de mar.
Gosto de gestos que flutuam como um sorriso em tempo manso reluzindo os vidros.
Gosto do fino no rústico.
Do suave no áspero.
O grande no sutil.
Um lindo dia com pouco de suor e rubor avançando em ondas de voz macia.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Lembranças da solidão

Soraia não era. Penso este nome agora, no momento em que imagino a porta a se mover só. 
Ele me contou hoje alguma coisa de sua história: atravessou iguarias do mundo comercial, ganhou muito dinheiro para a pouca idade...Quase um Marco Pólo denso: de longas viagens por poucos kilômetros. Ele é um inventor de si - poucos ousariam sê-lo. Largou "tudo", no entanto, para ser outro. 
Com ele reví-me: sem metamorfoses. Tinha sempre sido outra. Mas hoje, depois da sua história, olhei no espelho e lembrei dela, minha espera. Soraia não era, seu nome era outro - mas prefiro não dizer: é muito meu. Sou sua espera, seu tempo esticado nos arredores. Quando nos veremos? 
Sonhei com ela (ele também) noite passada, mas me recordo somente de um abraço; um abraço imagético: uma projeção a que assistia. 

 E fico... Estado de permanência... 

Quantos anos mais meu sorriso há de envelhecer até que passe essa solidão de não poder mais dizer: mãe?        
Cada vez mais precisaremos de aspas para falar. Penso que isso sugere que precisamos reinventar a língua: anda nos faltando palavras.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Três aforismas sobre o medo

Quem tem medo não vive entediado.

O medo é um excelente motivador.

Não existe niilismo onde existe o medo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O que não causou o silêncio?

Uma demolição em série.
Quem diria que ia dar nisso?
Alguma tristeza,
muitas dúvidas,
uma vontade
e três poemas.

O que queria?
Tornar-se um pouco de memória em mim.


.................................................................

Mas você ainda não sabe que viver exige menos.
Ainda não conhece a inércia do tempo,
acha que tem muito a ser feito.
Tem não.
Verás que uma hora a onda quebra e o mar tonteia
sem saber sentido, puro vazio.
...............................................................


Sem medo de ter coragem
agiu:
com as formigas saltou do trampolim.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Poema para Ana Luisa
          (Fernando Carlos Delatti)



"Vejo o perfil de teu corpo projetado nas areias tépidas dos caminhos das gerais
Vais flanando sobre rodas
Rodas que se articulam em engrenagens metálicas, tirantes de aço, cabos de força,
...Nos dando uma imagem duplicada de ti. Há um só tempo, energia e leveza,
força e graça, equilibrio e fuga...
mas vais sozinha
Que tanto buscas, viajor, em tua senda infinita ?
Deslumbrastes mundos que desconhecemos ?
ou nada buscas e nos da a lição do permanente caminho ?
Quem vem e vai, quem parte e fica, nesse mundo de aparências ?
..." o sertão é em toda a parte..."
Quem como tu aprendeste na alma essa verdade ?
És um corpo que se move e baila nos andamentos da música interior
Aos que te conhecem ( e saõ tão raros ) tens o poder de iluminá-los, pois,
Há uma luz que não percebes, a te conduzir pelos caminhos
Há uma luz que te fizestes e
Nos apontam meridianos
Uma mensagem é o que vem de ti
A verdade de uma vida valorosa
Desaparelhada do que é tangível e fraco
Do que esteja em acordo com o não eu
Ser humano em verdade
Um sorriso discreto
Uma palavra mais leve
Um compromisso de ser o que se é
Uma chegada conquistada sem ponto de partida

...travessia..."

sábado, 4 de agosto de 2012

O amor que se tem e não se dá não é nada.
Então por que tem, por quê?! (André Ribolli)
Porque também somos feitos de ilusão.