sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mãe

Ela era tímida. Seu primeiro nome, Luzia; em pagamento a uma graça alcançada: sua saúde. – Não mais que por 60 anos. Seu apelido, Nicinha, ou Ni, como seu filho a chamava.
Tinha um violão, visitava seu primeiro professor de música todo ano no aniversário, levava presente.
Ensinou-me a cantar. As primeiras músicas de meu repertório foram Negro Gato e O Calhambeque. Depois diversificamos. Eu cresci e cantávamos bossa, boleros, marchinhas, sambas, caymmis, miltons, caetanos…
Tocava o violão, eu cantava.
Jogava peteca comigo no quintal. Dançava comigo na sala, me assistia a dançar.
Bolos. Ensinou-me o preparo de bolos, vários tipos. O pão-de-ló era eu quem começava depois de bater claras até que ficassem duras. Depois do açúcar ela é quem continuava pois em seguida viria o leite quente e o fermento – etapas que exigiam mais preparo.
Massa derramada sobre a forma e o pote vinha para minhas mãos para eu me deliciar com a sobra da mistura.
Conversávamos horas a fio sobre tudo, e qualquer coisa. – Ela sabe de todos os meus amigos. Nunca houve segredos.

Caminhar, caminhar, caminhar
Na beira do rio.
Dormia com ela tocando violão,
Acordava ouvindo Chopin ou Alaíde Costa, ou Bach…muitos
Bolos.
O violino no final da tarde. O cachorro sempre a seus pés, a proteger-lhe, a saborear-lhe a companhia.
Caminhar, caminhar, caminhar
Sempre na beira do rio, ou riachinhos.

Bolinhos de chuva quando havia chuva, recheados
Com banana ou goiabada?
Banana.
Para o seu irmão, goiabada.
Que sobremesa você quer que eu faça?

Seu cheiro, o melhor do mundo.
Seu sorriso, o que eu mais amava.
Sua pele,
meu contato, nosso tempo.
Suas prendas: costura, música, canto, comida, tapeçaria, cortes de cabelo, pintura de unhas,
A casa,
O piano que ela gostaria de ter na sala,
Amor, amor, amor, só amor sempre
Por todos.

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