terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Morcego

Deixa eu contar. Hoje entrou um morcego aqui em casa. Junto às ratazanas e camundongos de esgoto, este é o outro animal que me libera um medo estranho. Eu realmente não gosto de morcegos – mas compreenda: não é por isso que eu queira mal a estes pobres animaizinhos; eu só não os desejo perto de mim, ao mesmo tempo que eu no mesmo espaço .
Mas, então, o bicho entrou pelas minhas costas silenciosamente. De repente vi um vulto áereo e me virei: ele acabava de mergulhar até poucos centímetros do chão e quase tocava meus pés neste momento. Era dia e eu não me lembrava dos morcegos – por conta da hora, suponho; devia ser quase onze da manhã –, sendo assim, minha mente me informou que a massa voadora era uma mariposa. Mas como a mariposa estava voando rápido demais e não se viam lantejoulas ou cetim azul sobre suas asas, o morcego apareceu, em segundos, e a mariposa foi destruída. Ele, com toda a sua fealdade, agora voava desorientado pelo ar de minha sala de substantivos vivos.
Deixei-o lá e saí correndo para outro cômodo. Tranquei a porta como se o morcego pudesse desejar abrí-la a ponta-pés. – Afinal, por que ele viria à minha casa senão para me atacar? Talvez estivesse muito bravo comigo. E quem sabe porque não descobriu antes que eu não permitiria que ele fosse mariposa?!
Esperei, esperei, esperei, numa mistura de pavor e frêmito; duas vezes abri a porta para ver se ele tinha desisitido de me perseguir e escapado por umas das inúmeras saídas que havia na sala. Não, ele continuava lá, exibindo toda sua capacidade de vôo enquanto me ameaçava com rasantes na direção da porta. Foi quando tive uma idéia: iria espioná-lo de outro lugar. Saí do cômodo onde estava pela janela e alcancei a sala do morcego pela porta da frente da casa. Era uma missão arriscada, pois ele, com toda a sua fúria, poderia prever meu plano e me esperar, para um ataque certeiro, exatamente nesta outra abertura.
Cheguei com cuidado e entrei, preparada para uma fuga imediata, caso ele ainda estivesse ali. Caminhava pausadamente, a respiração curta e lenta, os olhos atentos ao menor sinal de movimento escuro – ele poderia estar escondido somente esperando o momento do bote.
A sala estava muda e fresca, como se somente um sonho tivesse passado por ali. O cachorro continuava no mesmo lugar, no mesmo tapete há uns dois metros da mesa onde eu estivera lendo antes da chegada da massa voadora. Perguntei, então, a este substantivo vivo se o indesejado visitante tinha partido. Ele não entendeu mas pôs-se a rir.
sentia, pois, meu corpo funcionando novamente: braços e pernas retornando do suspense, olhos repousando em suas conchinhas, respiração em volumosas ondas e um leve sorriso, que surgiu para arrematar a história.

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