Vamos ao que interessa: esta noite.
Não há vento. As árvores estão duras,
plasticamente paradas.
Só há insetos pesados à minha volta. Aqueles
cascudos cujo calor faz despencar do céu para a morte do amanhecer. Amanhã
estarão todos mortos de pernas para cima, bamboleando sobre a casca oval.
Estou parada como o ar. Não conseguiria muitas
palavras esta noite. Não conseguiria as
muitas pessoas daquela praça esta noite.
Estou morna como o ar. Quieta como o vento.
Atrás de minha pele tudo é morno também.
Esta noite é matéria orgânica. É dia. Os homens
podem andar sem camisa nela – e o fazem.
Só penso em uma pessoa. Nesta noite morna. Não
sei o que penso, vejo. Peso. Sopé.
Silêncio combina com calor ou com o frio?
Com calor tudo parece mudo, tudo parece bobo.
Um assassinato: bobo. Um grito: fútil. Uma dor: inútil. Com o frio a razão se assemelha.
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Fala baixinho, Ana. Cochicha para essas paredes
o que você não pode enunciar aqui. Elas são discretas, brancas para disfarçar o
que não tem tamanho. Eu sou branco
também, um simulacro de papel; como vê. Mas eu falo alto demais, e as paredes
não vagueiam como eu.
Fala para elas o que eu sei antes de você. Fala
dos seus vícios, das suas brechas, da sua falsa desfaçatez. Conta de seus
desejos e de suas insalubres ideias. Não liga, não. As paredes são aliadas:
guardarão para sempre – mesmo depois de caídas – tudo seu que só cabe a elas.
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ResponderExcluirputz enquanto lia, um desses besouros cascudos e pesados grudou na minha perna,até perdi o sono!
ResponderExcluirNo chão do meu quarto posso ver vários mortos
amanhã serão outros tantos
agora muitos voam
voam e caem em torvelinhos
e ao chão de pernas para o ar esperneiam
farei o mesmo em poucos minutos
a diferença que estarei vivo amanhã
mas morrendo a cada minuto.
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ResponderExcluirEstes pesados insetos, aliás, qualquer inseto nos informa do absurdo desta vida.
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